quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Santo André Avelino

Santo André Avelino, um autêntico reformador
Santo André Avelino, um autêntico reformador
O século XVI, que viu fermentar por toda a Europa central a heresia de Lutero e congêneres, assistiu também ao florescimento de uma plêiade de grandes Santos, que empreenderam a gloriosa Contra-Reforma católica. Santo André Avelino foi um deles.
                                                                                                                               Plinio Maria Solimeo
Castronuovo, pequena cidade do então reino de Nápoles, foi o berço de Lancelote, filho de João Avelino e Margarida Apella. Casal piedoso, que prezava mais os bens espirituais que os materiais, que não lhes faltavam, consagraram o menino logo ao nascer à Santíssima Virgem e se esmeraram em proporcionar-lhe uma educação profundamente cristã.
Antes de começar a falar, o bebê já aprendera o Sinal da Cruz. Tudo nele parecia predizer sua futura santidade.
Sua infância foi pura e inocente. Bem cedo demonstrou uma terna devoção à Santíssima Virgem, passando a rezar diariamente seu Rosário.
O menino era dotado da facilidade da palavra; seus companheiros de infância lhe diziam: “Olhe, Lancelote, tu que sabes falar, diga alguma coisa para entreter-nos”. O menino não se fazia de rogado. Subindo a uma pedra, começava a falar como um consumado pregador. Às vezes explicava o catecismo, outras narrava a vida de algum Santo, e muito freqüentemente exortava seu pequeno auditório a rezar o Rosário, a obedecer aos pais e mestres, e a cumprir com honestidade seus deveres. E como ele era ouvido com atenção! Estávamos numa época bem diferente da nossa...
Brilhantes estudos, esmerada virtude
Depois de seus primeiros estudos, foi enviado a Veneza para cursar humanidades e filosofia. Tornara-se um adolescente robusto e de bela aparência, o que lhe valeu muitos sacrifícios e grandes lutas para preservar o tesouro da castidade, que ele amava com amor combativo. Várias vezes teve de fugir para escapar das ciladas que lhe eram armadas. Uma vez foi assediado por uma mulher de má vida que queria induzi-lo ao pecado, e outra, estando de passagem por sua casa, pela própria ama que o havia criado!
Por isso quis proteger-se tomando o estado clerical, recebendo a tonsura das mãos do Bispo diocesano. Voltou então para Nápoles, onde doutorou-se com brilho na jurisprudência. Foi também ordenado sacerdote.
O Pe. Lancelote, cuja virtude já era admirada por muitos, foi então escolhido para reformar um convento de monjas decadentes, que viviam em total desordem. Pacientemente, começou a combater o relaxamento e a incentivar a prática da virtude, coibindo os abusos, principalmente a visita assídua de seculares ao convento. Aos poucos foi ganhando aqueles corações entibiados e reacendendo neles o fogo do amor de Deus. O convento passou a ser a admiração da cidade pelo seu fervor e desejo de virtude.
Mas nem todos ficaram edificados. Alguns jovens não gostaram de se verem privados das visitas ao convento; para se vingar do jovem reformador, contrataram um sicário que desferiu no Pe. Lancelote vários golpes de espada sobretudo no rosto, deixando-o estendido numa poça de sangue. Felizmente, nenhuma ferida foi mortal, e ele recuperou-se milagrosamente sem ficar mesmo com qualquer cicatriz na face.
O Vice-rei de Nápoles quis punir os autores do atentado, mas o Pe. Lancelote não permitiu. Deus disso se encarregou: o sicário que perpetrara o atentado foi morto por um homem a quem havia desonrado a casa com uma ação impudica.

Em meio a uma forte tempestade, o próprio corpo de Santo André brilha milagrosamente, iluninando o caminho para ele e seus amigos



De sacerdote e advogado, a religioso teatino

            O Pe. Lancelote exercia também com brilho a advocacia na Cúria eclesiástica. Defendendo, certo dia, um amigo seu, no fogo e veemência com que falava, deixou escapar, na defesa, uma mentira artificiosa. Esse episódio, aparentemente de pouca monta, foi a ocasião que a Providência quis servir-se para atraí-lo a uma vida mais perfeita. Chegando em casa e rememorando o fato, pegou as Sagradas Escrituras e, abrindo-as ao acaso, deparou exatamente com as palavras do Livro da Sabedoria “a boca que mente dá morte à alma”. Seu arrependimento e sua dor foram tão grandes que resolveu abandonar o mundo e entrar na Ordem dos Teatinos, fundada havia 30 anos por São Caetano de Tiene, e que visava especialmente a reforma do Clero. Tinha ele então 35 anos de idade.
Realmente, havia tal decadência religiosa da parte do Clero, que se tornou popular um adágio que dizia: “se queres ir ao inferno, faze-te clérigo”.
 Promessa de adquirir uma nova virtude a cada dia
Por amor à Cruz, Lancelote escolheu em religião o nome do Apóstolo André, nela martirizado. Seu desejo de perfeição era tão grande que, inspirado pela Providência, além dos três votos normais de obediência, pobreza e castidade, fez mais dois votos heróicos: o de negar em tudo a própria vontade e o de adquirir novo grau de virtude a cada dia.
Em seu noviciado era preciso antes reprimir seu fervor que prová-lo, pois, quanto mais o humilhassem, mais feliz se mostrava. As penitências que fazia estavam muito acima das normalmente pedidas aos noviços.
            Apenas feita a profissão religiosa, pediu licença aos superiores para ir até Roma visitar o túmulo dos Apóstolos e dos mártires e ganhar as indulgências devidas.
            Ao voltar a Nápoles, foi-lhe dado o cargo de Mestre de Noviços, que ele exerceu por 10 anos com suma prudência e caridade, o que fez com que o escolhessem para Superior.
            Santo André Avelino foi depois encarregado de fundar duas novas casas da Ordem, uma em Piacenza e outra em Milão. Na primeira cidade, ele pregou contra o excesso de luxo nas mulheres, e converteu várias pecadoras públicas. Suas pregações sobre a reforma de vida desagradou a alguns, que apelaram para o Duque de Parma pedindo-lhe que banisse o importuno de seus Estados. Mas o Duque quis certificar-se diretamente do caso, e depois de ter conversado com o Santo, passou a ser o seu mais convicto defensor, conhecedor da preciosidade que possuía em seus domínios. A Duquesa quis tê-lo como confessor.


Santo André morre de apoplexia, logo após pronunciar as palavras iniciais da Missa: "Entrarei no Altar do Senhor"

Amizade com São Carlos Borromeu
            Em Milão, André era esperado por outro Santo, a quem havia chegado a fama de suas virtudes. Tratava-se do Cardeal São Carlos Borromeu, outro dos sustentáculos da Contra–Reforma. Entre os dois estabeleceu-se uma amizade verdadeiramente sobrenatural, que só pode existir entre santos, e tão íntima, que Santo André comunicava a São Carlos, com toda simplicidade, as graças sobrenaturais que recebia do Céu. Assim, um dia contou ele que Nosso Senhor lhe tinha aparecido em toda sua glória e lhe havia dado uma tão alta noção da beleza divina, que ele não era capaz de amar mais nenhuma coisa das que se dão tanto valor na Terra.
            Aliás, os Santos reformadores dessa época brilham por sua caridade e amor ao próximo. De tal modo que o próprio heresiarca Lutero, em carta a seu amigo Múscilo, reconhece:“Pelo menos sob o regime papal, as pessoas eram caritativas [...] Mudamos de natureza. Temos, uns para com os outros, a bondade das bestas ferozes. Quem se interessa agora pelo próximo? Cada qual se ama a si mesmo, sem preocupar-se com os demais; e podemos nos perguntar se resta em nossas veias alguma gota de sangue humano” (1).
            A caridade de Santo André Avelino manifestou-se com muito mais intensidade durante a peste de Milão, em 1576.
Refuta hereges e opera milagres
            Eleito superior, em Nápoles, “durante seu governo ele descobriu e refutou publicamente hereges que combatiam a verdade sobre o corpo e sangue do Filho de Deus na Eucaristia, e fez punir o chefe”. Um homem, seduzido por esses impostores, recebeu a Hóstia santa e a embrulhou em seu lenço para depois a profanar. Chegando em casa, abrindo o lenço, encontrou sangue que havia escorrido da Hóstia. Aterrorizado, correu em busca de Santo André a quem confessou seu crime. Para evitar que o criminoso desesperasse, o Santo tomou sobre si parte da penitência a ele devida. Mas, sem nomear o autor, utilizou esse estupendo milagre para fortalecer na fé os que vacilavam diante desse divino mistério (2).
            Vários fatos miraculosos ocorreram com esse Servo de Deus. Certa vez, quando ele, com um companheiro, levava o Viático a um enfermo num lugar muito ermo, desabou forte temporal que apagou a tocha que o companheiro levava para clarear o caminho. Mas não só a chuva não os molhou, como o rosto do Santo irradiou tal luminosidade, que iluminou o caminho.
Proteção contra a morte súbita
            Certo dia viajava ele com um outro religioso a cavalo quando o seu, assustando-se, deu um salto, lançando o Santo fora da sela, e partiu em disparada. Acontece que um dos pés de André ficou preso ao estribo, e ele foi arrastado pelo terreno pedregoso. Mas, chamando em seu auxílio São Domingos e São Tomás de Aquino, estes lhe apareceram, desvencilharam-no do estribo, enxugaram seu sangue e curaram suas chagas.
            Outra vez, quando André gemia sob a forte tentação de ser do número dos réprobos, apareceu-lhe Santo Agostinho e São Tomás que, com palavras cheias de bondade, inspiraram-lhe nova confiança em Deus assegurando-lhe o comprazimento de Deus para com ele.
            Santo André Avelino escreveu várias obras ascéticas e místicas.
            Enfim, no dia 10 de novembro de 1608, quando o Santo era já quase nonagenário, ao dirigir-se para celebrar a Missa, teve um ataque de apoplexia entregando pouco depois sua valorosa alma ao Criador. Santo muito popular na Itália, é invocado contra a morte repentina e a apoplexia (3).

Notas
1– Apud Fr. Justo Peres de Urbel, O.S.B., Ano Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 320.     
2– Cfr. Lês Petits Bollandistes, Vie dês Saints, d’ après de Père Giry, Bloud e Barral, Paris, 1882, vol. 13, pp. 304–305.
3– Outras obras consultadas:
- Edelviges, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1949, vol. VI, pp. 101–109.
- Dom Prospero Guéranger, El Año Litúrgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, vol. V, pp. 800–805.
- Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, vol III, p. 289. 

Fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=359&mes=novembro2002

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